Eu já tinha me
conformado, aceitado até, que no futuro eu seria uma velha solitária, do tipo
que toma conhaque no café da manhã. Sem amigos, marido ou filhos. Sozinha. Não
por desejar isso pra mim, até porque, não me parece assim tão bom. Mas as
minhas escolhas na vida sempre me levaram a ser sozinha e imagino que isso se
acumule ao longo da vida até chegar numa velhice completamente solitária, a não
ser que se faça algo pra mudar isso. Mas também nunca pensei em mudar.
Afinal, mudar pra
que? Quão complicadas são as relações humanas, e desgastantes, cansativas...
Mas eis que surge
uma pessoa.
E tudo muda.
Completamente.
E o que eu vejo no
futuro, nem tão distante, é uma mulher feliz, com o homem que ama, um filho
talvez, numa casa pequena mas com um jardim bem grande, uma árvore pra
construir uma casinha com um balanço embaixo, um gato gordo e um cachorro
serelepe e um coelhinho fofinho.
Mas a pessoa se acha
jovem demais pra tudo isso.
E o sonho desmorona,
como um castelo de cartas.
Como pensar em
construir um futuro junto, se o outro nem pensa em construir futuro algum. Ou
melhor, acha que ainda tem muito tempo pra pensar em começar a construir algo.
Que vive como jovem inconsequente, rebelde sem causa, enquanto eu ando cheia de
preocupações e dificuldades pra construir uma estrutura sólida e poder ter
alguma estabilidade futura.
Não tá fácil amar
alguem numa vibe assim tão diferente da minha...
Tenho me perguntado
tantas e tantas vezes se espero. Não tenho dúvidas que poderíamos ser felizes
juntos, mas vale a pena perder os melhores anos da minha juventude esperando
sentada, vendo ele se encaminhar pra outra direção?
Vejo o velho
conhaque matinal se aproximando novamente.